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na Manifestação pelo direito ao trabalho.
Que a crise não legitime o despedimento de trabalhadoras apenas porque são mulheres. Que mulheres não possam ser despedidas porque engravidaram, prejudicadas porque são mães, desrespeitadas na sua dignidade no trabalho e na ausência deste. Manifestamos a nossa solidariedade com as mulheres que, desempregadas como nós, precisam do emprego não só para garantir o pão, a casa, as condições de vida básicas, para si e/ou para os seus filhos, mas também para se libertarem da asfixia de uma relação violenta e para recuperarem a sua liberdade e a sua segurança.
No dia em que saímos à rua pelo direito ao trabalho, afirmamos alto e bom som que somos mulheres e queremos o reconhecimento das nossas reivindicações e o respeito pelas nossas preocupações. Sem condescendências, sem falsas cedências, sem falsas paridades, recusamos a discriminação, tenha ela o sinal que tiver. Temos uma voz e erguemo-la bem alto. Por um País mais justo. Por um futuro que também nos pertence e não pode construir-se sem nós.
Colectivo de mulheres desempregadas e sub empregadas
mulheres.desempregadas@gmail.com
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Vivemos dias duros, inquietantes. Tempos de retrocesso. Crescemos crentes que o mundo era nosso, que a felicidade, o bem-estar e a tranquilidade estavam mesmo ali ao virar da esquina, que nada poderia destruir as conquistas dos povos e eis-nos de repente como se nada do que aprendemos valesse. Em poucos anos, o Estado a que chamavam do bem-estar está a ser delapidado e em breve, se nada fizermos, não restará pedra sobre pedra. Nestes tempos de angústia, as pessoas mais oprimidas, mais vulneráveis são as primeiras a sentir degradar-se a sua condição. Entre elas, como não poderia deixar de ser – a História tem-no provado -, estão as mulheres. Não adianta tentar tapar o sol com a peneira, as mulheres são historicamente mais afectadas, nomeadamente em tempos ditos de crise, e a História e as sociedades patriarcais, ao contrário do que tentaram fazer-nos crer, não terminaram. E são-no porque, quer se queira quer não, elas continuam, em pleno séc. XXI, a ter de tudo conquistar num mundo em que às mulheres continuam a ser confinados papéis e representações sociais desiguais e subalternos e em que são os princípios capitalistas e machistas que dominam as principais esferas de poder que controlam a nossa existência: o Estado, o Mercado, a Finança. Ou melhor, a Finança e o Mercado e depois o Estado.
Nos países ditos desenvolvidos, tal como naqueles a que se convencionou chamar de “emergentes” – aos quais ousaríamos acrescentar, por oposição, aqueles que estão actualmente a ser afogados – as mulheres auferem salários mais baixos, trabalham mais horas, são as mais numerosas a trabalhar em situação contratual precária, para não falar no trabalho ilegal e informal, e eram a maioria do desemprego – um verdadeiro exército de reserva – quando entramos nesta crise. A análise dos impactos das crises económicas anteriores nas condições de vida das mulheres, ressaltam três aspectos: a intensificação do trabalho das mulheres (pago e não pago); recuperação mais rápida do emprego masculino do que o feminino (que é sempre mais precarizado); e no final das crises verificam-se retrocessos relativamente às épocas anteriores. As mulheres sofrem, pois, de modo diferenciado os efeitos das crises económicas e sociais porque se encontram diferentemente posicionadas nas hierarquias do poder económico, político, social, cultural e simbólico.
Em Portugal e quando sabemos que as responsabilidade do cuidado e da protecção social recai sobre a chamada “Sociedade Previdência”, é bom não esquecer qual o seu principal rosto. São as mulheres que continuam a arcar por defeito com a educação e os cuidados aos filhos e filhas , bem como às pessoas idosas. Para além do mais, elas constituem o grosso das agora eufemisticamente chamadas famílias monoparentais, e, quando partilham as responsabilidades parentais com os pais dos seus filhos e filhas, no mais das vezes, são elas que abdicam de carreiras, do trabalho a tempo total, dos seus próprios tempos de lazer e até do activismo político, em prol dos homens. Uma vez no desemprego, elas mantêm-se numa invisibilidade constrangedora. Infelizmente, o lugar de demasiadas mulheres continua a ser em casa, onde se encontram isoladas e sem instrumentos que lhes permitam pensar e mudar a sua condição. Ao mesmo tempo a maternidade é, cada vez menos, uma escolha. Entre uma economia assente no vale tudo e no individualismo e uma cultura conservadora que não respeita as nossas decisões, a pressão para o asfixiamento das nossas vidas é enorme: ora somos resumidas a produtoras, ora reprodutoras ou, “com sorte”, a “super-mulheres”.
Apesar dos muitos avanços nas mentalidades e de algumas conquistas reais que conseguimos e reconhecemos, não podemos deixar de afirmar a nossa determinação em não permitir que as diversas manobras com que o poder financeiro tem tentado disfarçar os seus propósitos nos desvie do nosso objectivo hoje e sempre: o direito a uma vida digna e à conquista da felicidade. Não aceitamos que desculpas esfarrapadas como “crise”, défice”, “dívida” voltem a acentuar fossos que levaram séculos a diminuir. Não aceitamos ter que escolher entre carreira e família, entre trabalho e qualidade de vida.
Que a crise não legitime o despedimento de trabalhadoras apenas porque são mulheres. Que mulheres não possam ser despedidas porque engravidaram, prejudicadas porque são mães, desrespeitadas na sua dignidade no trabalho e na ausência deste. Manifestamos a nossa solidariedade com as mulheres que, desempregadas como nós, precisam do emprego não só para garantir o pão, a casa, as condições de vida básicas, para si e/ou para as suas crianças, mas também para se libertarem da asfixia de uma relação violenta e para recuperarem a sua liberdade e a sua segurança.
No dia em que saímos à rua pelo direito ao trabalho para todas e todos, afirmamos alto e a bom som que somos mulheres e que queremos o reconhecimento das nossas reivindicações e o respeito pelas nossas preocupações. Sem condescendências, sem falsas cedências, sem falsas paridades, recusamos a discriminação, tenha ela o sinal que tiver. Temos uma voz, várias vozes, e erguemo-la bem alto. Por um País mais justo. Por um futuro que também nos pertence e não pode construir-se sem nós.
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