sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Partir a espinha é ao carapau

Diz este senhor que é preciso partir a espinha aos sindicatos portugueses, repetindo o repto de Maldonado Gonelha. Esqueçamos o contexto. Esqueçamos a história, que é, aparentemente, coisa de esquerdistas. Dou por mim estupefacto com esta crónica. Apesar de todas as críticas que tenho a fazer à acção das confederações e sindicatos - e não são poucas.

Diz o referido senhor:
"Os sindicatos têm uma esfera de accção perfeitamente definida. Existem para defender os seus associados em matérias muito concretas, como as remunerações e as condições de trabalho." 
Refere igualmente isto: 
"A política de privatizações é uma matéria para a qual os sindicalistas não devem ser chamados." 
Presumo que o senhor não compreenda a contradição profunda. Talvez não saiba que um processo de privatização (no meu universo, que é bastante diferente do dele, admito) é, entre outras coisas, uma reconfiguração das relações industriais e existem poucos casos em que a estrutura de remunerações e as relações laborais de uma firma não sejam alteradas com a privatização da mesma. Portanto, sim, os sindicatos devem pronunciar-se acerca das privatizações. Se o senhor não fosse um jornaleiro de baixa craveira, como é, talvez se desse ao trabalho de saber o que é um sindicato. E talvez se desse ao trabalho de ler a Constituição da República Portuguesa - apesar de epígonos como ele preferirem ignorar a ordem constitucional. Talvez se desse ao trabalho de ler este sujeito, que diz algo como isto:
"So Karl Marx, it seems, was partly right in arguing that globalization, financial intermediation run amok, and redistribution of income and wealth from labor to capital could lead capitalism to self-destruct (though his view that socialism would be better has proved wrong)."
Leia comigo: "a redistribuição de rendimento e riqueza do trabalho para o capital pode levar o capitalismo à auto-destruição".

Aproveite e dê uma espreitadela ao trabalho destes senhores. O aumento galopante das desigualdades e da concentração de poder, na utopia privatizada do outro lado do Atlântico, é uma consequência da perda de força dos sindicatos. Talvez queira ver isto e explicar aos seus leitores porque é que uma elevada taxa de sindicalização está correlacionada com níveis mais altos de desenvolvimento humano, qualidade de vida e inovação, ou acredita que os países escandinavos são distopias totalitárias?

Disse acima que presumo a incompreensão. Prefiro fazê-lo, porque sou um perigoso esquerdista, a presumir má-fé. Ou, pior, a presumir estupidez, que parece um gosto adquirido pelos epígonos conservadores portugueses. É no que dá querer escrever de forma muito máscula e patriarcal. O tiro ricocheteia.

Em suma: quer meter medo, mas não passa de um Batatinha. Ganhe juízo, se faz favor.


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