terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O respeitinho pelas bestas negras

Isabel Vaz volta a atacar. Numa entrevista extraordinária ao Diário Económico, a administradora da Espírito Santo Saúde revela o seu credo:
""É por essa mentalidade, do medo do lucro, quando o lucro é o que faz a sociedade andar, que continuamos um país atrasado", defende."
A religião da classe capitalista portuguesa revelada em todo o seu fulgor. Uma religião da desigualdade, do socialismo para os ricos e do mercado livre para os pobres. Num dos países mais desiguais da Europa ocidental, esta sacerdotisa psicopata - já basta de sermos politicamente correctos e mantermos um respeitinho bolorento - usa a tribuna concedida pela pseudo-imprensa económica para inventar um mundo onde a saúde será um negócio tão lucrativo quanto o tráfico legal de armas. É isto que a vigária Vaz pretende. E é por isto que mente, ao afirmar:
"Nas PPP o Estado passa para os privados uma quantidade total de riscos. (...)  E tudo isso foi assumido pelo sector privado. O Dr. Vítor Gaspar inscreveu uma verba no Orçamento, que é exactamente quanto lhe vai custar."
Uma busca na Internet, esse repositório de informação que não deve agradar a gentalha deste calibre, permite-nos encontrar um relatório da DGTF acerca das Parcerias Público-Privado, onde uma matriz de risco do hospital de Loures, tema central da entrevista que cito, revela que a alocação do risco respeitante a essa PPP não prevê UMA assunção de risco exclusivamente privada. Leiam a página 85. O Estado não passa, para os privados, uma quantidade total de riscos. Os privados é que passam, para o erário público, riscos inerentes a uma operação financeira. É um estratagema útil para quem faz a profissão de fé do capitalismo mas adora o socialismo em segredo. Corporate welfare em todo o seu esplendor. E um estratagema bem sucedido numa sociedade adormecida. Enquanto deixarmos que gente como Isabel Vaz mantenha o monopólio do debate público, a derrota será certa. Quando estes parasitas perceberem que também sabemos ler, que sabemos qual a sua verdadeira identidade, começarão a bater em retirada. Esse dia não chegará de imediato. Mas podemos confrontá-los com dados empíricos. A razão está do nosso lado.

A dita vigária não revela que as PPP são contratos plurianuais e que os compromissos inscritos no Orçamento de Estado para 2012 não contêm a totalidade dos custos associados. São esquecimentos estratégicos. Na realidade, as PPP são sistemas de extracção de renda e depauperação do erário público. Se consentirmos na sua continuação, o Estado liberal-paternalista completará a sua metamorfose em Estado neoliberal. Um conjunto de instituições ao dispor de um número limitado de corporações e respectivos verdugos. Que legitimará um estado permanente de excepção e opressão. O caminho da servidão como sonhado por Hayek, que congeminou este futuro no Mont Pélérin. Porque a dignidade de quem trabalha é menos importante que os Ferraris dos administradores do Grupo Espírito Santo.

Isabel Vaz é uma mentirosa e sabe-o bem. Não tem que se justificar perante quem tem a responsabilidade de questioná-la e eu, pessoalmente, não tenho forma de obrigá-la a responder publicamente por estas mentiras nojentas. Mas posso deixar esta informação aqui e esperar que haja alguém com vontade de ler e questionar esta vara de suínos que nos toma, a todos, por bestas de carga ou hamsters lubrificantes do seu culto ao lucro. Esta vigária é apenas um dos megafones da classe capitalista portuguesa, esse furúnculo nas políticas públicas de desenvolvimento do país: o dinheiro que é injectado na Espírito Santo Saúde não será injectado em projectos de correcção das assimetrias regionais, um dos problemas mais graves de Portugal.

De uma vez por todas, basta de mantermos as luvas de seda. É preciso jogar no ringue desta classe peçonhenta e golpeá-los onde lhes dói: na legitimidade automática. Para isso, é preciso extinguir o respeitinho.

7 comentários:

  1. Na convenção houve uma apresentação do Rui Maia sobre as PPP na saúde. Não há uma única em todo o país em que o risco seja assumido pelas empresas: em TODOS os casos o risco é assumido totalmente pelo estado ou parcialmente pelo estado (numa parcela muito alta, claro!). Nenhuma das empresas assume o risco do negócio em que se mete. Nem o BES, nem os Mello, nenhuma.

    Na verdade há mesmo subsídio-dependentes: são é milionários.

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  2. Perdão, queria dizer multi-milionários...

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  3. e A galinha dos ovos de ouro. o q eles querem e ter analfabetos, para doma-los mais facilmente..e dps impingem-nos a treta da bebedeira e q temos q pagar..pk usufruimos dos seus serviços (emprestimos), com os quais auferem lucros escandalosos.

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  4. Ooops... eu hoje estou bem. Não é Rui, é Bruno Maia. Está aqui o artigo que ele escreveu com o material que apresentou na convenção: http://www.esquerda.net/opiniao/ppps-na-sa%C3%BAde-risco-zero-para-os-privados#.TvnlNbr4qL0.facebook

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  5. Mas a bestagem está nos representantes do estado que assinam os contratos. Esses é que deviam responder pela trafulhice.

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  6. Exacto, Luís Moreira, parece-me importante lembrar que os privados não nos devem nada. A questão deve ser saber o que fazem os que são pagos por nós para representar os interesses da população portuguesa e a vendem em saldo.

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