"As escolhas que fizermos não determinarão apenas o governo formado após a eleição, mas o percurso da Grécia nas próximas décadas".Samaras e Venizelos devem ter esfregado as mãos de contentes. É que, de acordo com as últimas sondagens, uma coligação PASOK+ND obterá 32 a 35% dos votos. Uma coligação insuportável num parlamento totalmente balcanizado. Numa altura em que se fala do terceiro empréstimo sob condicionalidade estrita à Grécia e no primeiro empréstimo ao Estado Espanhol, aproximam-se, lembrando a China, tempos interessantes. Já sabemos que a trajectória institucional grega é insustentável (para quem ainda preza o processo democrático) e o regime grego transitou para uma pós-democracia* de instituições extractivas.
Neste blog, já insistimos várias vezes nisto: o Estado-fénix nascente das cinzas do regime de acumulação neoliberal não é um Estado esvaziado. A Grécia é um exemplo disto: está a nascer um Estado-leviatã que irá acelerar a transferência de riqueza para o ápice da nova pirâmide social e a deposição do risco nas regiões penumbrentas do mundo social. O número de suicídios e o consumo de ansiolíticos são efeitos colaterais de um conjunto de abalos sísmicos nas estruturas sociais e políticas gregas - e todos os países europeus são a Grécia, porque as pressões pós-democráticas destroçaram os equilíbrios institucionais que garantiam a legitimidade automática da democracia representativa liberal (de mercado, dir-se-á) e essas pressões são globais (o último livro de Jamie Galbraith sublinha-o de forma arrasadora). E é importante observar como se eclipsaram os tribunais constitucionais em toda a periferia europeia, contrastando com a veneração crescente ao tribunal constitucional alemão.
É isto que está em causa a 6 de Maio, apesar de, previsivelmente, Aleka Papariga e Alexis Tsipras preferirem cerrar fileiras em torno das suas bases num combate que, sejamos pragmáticos, não podem ganhar sós.
A democracia vai espirrar. Veremos se é desta que a escumalha tecnocrata apanha uma pneumonia e vai para um sanatório.
*Vale a pena ver esta entrevista a Colin Crouch, um dos mais perspicazes intérpretes mainstream do neoliberalismo tardio.
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