sexta-feira, 6 de abril de 2012

"A solução? Sugar-lhes o tutano." (Troika)

A Alfredo da Costa é encerrada pouco depois de um farmacêutico reformado dar um tiro nas têmporas, gritando "não quero deixar dívidas aos meus filhos!". O Tribunal Constitucional português fez jurisprudência ao aceitar os cortes salariais e vai aceitar a proibição das reformas antecipadas, num movimento escondido e opaco do governo que pretendeu "limitar os pedidos". Nos jornais, há quem afirme que os jovens licenciados portugueses não servem para nada.

Entretanto, o terceiro relatório do FMI demonstra, com a clareza do costume, que o negócio do Fundo não é outro além de fazer previsões absurdas e responsabilizar outrém pela sua incompetência. Na Irlanda, os LTROs do Banco Central Europeu estão a tornar a National Assets Management Agency irrelevante: o passivo dos maiores bancos irlandeses continua a acumular e um novo colapso é iminente.

O desemprego? Um gráfico que assusta os verdugos de Frankfurt e Bruxelas:


E outro, que também os assusta (porque ouvem o apelido Bouazizi e parece, diz que, houve quem ouvisse, que há gente a matar-se na Europa, esse continente prenhe de civilidade):


Vemos tudo isto a acontecer. Os abalos sísmicos começam a tornar-se agudos. Pequenos sinais. Aumento de impostos indirectos sobre o rendimento. Descida dos impostos sobre o capital. Repressão salarial. Expansão do crédito ao consumo. Repressão de sindicatos. Explosão do aparato repressor do Estado. Privatização maciça de serviços essenciais e monopólios naturais. Financeirização do poder e das representações da virtude - a oligarquia como novo ideal platónico. Imposição de regimes pós-democráticos e protectorados de leviatãs tecnocráticos. Ascensão de sociopatas através de incentivos institucionais e sociais (Pedro Mota Soares e respectivos algozes já o mostraram, à saciedade). Explosão das desigualdades e esvaziamento da ideia de igualdade política.

Tudo isto aponta para um fenómeno: acumulação por expropriação. É preciso acumular? Aumentem-se os impostos, mas mantenham-se os paraísos fiscais. Baixem-se os salários e aumente-se a oferta de crédito. Expropriem-se os seres humanos e encham-se os cofres. Ninguém se queixa? Melhor. Mais carga. Mais duro, especialmente se estiverem longe de Paris ou Berlim.

Há um senhor de barbas (não é esse) que oferece uma explicação (com base nesse):


É preciso não desumanizar Dimitris Christoulas. Porque as tentativas vão surgir, como surgem sempre: era um alienado, um desadequado, um ínvio esquerdista. Vão tentar apagar tudo e manter o verniz. É preciso parar e pensar. A austeridade tem rostos. O rosto de quem a ama e o rosto de quem é violado por ela. Não podemos esquecer-nos disso. Para além da conversa teórica (mea culpa). Porque este caminho não é insustentável, ao contrário do que se diz. É sustentável. É o rumo certo, direitinho, de um novo totalitarismo.

E se, há uns meses, achava a afirmação excessiva, hoje já não acho. Basta ler o novo tratado fiscal, que ilegaliza a possibilidade de uma economia mista e inaugura um novo tipo de fundamentalismo constitucional, uma nova religião de Estado - ao mesmo tempo que se critica o Irão e a Arábia Saudita. E mais austeridade, porque ainda não sofremos que chegue. Se sofremos, temos solução. Ou nos tornamos empreendedores ou...
O cruel, needless misunderstanding! O stubborn, self-willed exile from the loving breast! Two gin-scented tears trickled down the sides of his nose. But it was all right, everything was all right, the struggle was finished. He had won the victory over himself. He loved Big Brother. (George Orwell, 1984

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