domingo, 13 de novembro de 2011
A breve fraqueza dos fortes
Ao explicar hoje na RTP a nova situação política italiana, o repórter Noé Monteiro hesitou numa palavra. Falava então da queda de Berlusconi e da sua sucessão por Mario Monti. Monti, o tecnocrata preferido pelos mercados que foi comissário europeu durante um par de anos, prepara-se para ser convidado a formar governo pelo presidente Giorgio Napolitano. Portanto, frisava o repórter, não estão pensadas eleições na sequência desta mudança, ao contrário que é norma em regimes... "democráticos". De facto, e independentemente do asco que se possa e deva sentir por Berlusconi, a actual ultrapassagem da democracia pelo regime dos credores não é coisa de somenos. Tal como os referendos, as eleições actualmente tendem a ser vistas com bons olhos apenas se não atrapalharem. Neste novo regime a que também já se chamou "pós-democrático", expressões como "governo técnico" - com o qual se pretenderá crismar o "governo Monti" -, "saneamento das contas públicas", "combate ao défice", "remoção das gorduras do Estado" erguem-se como um novo senso comum. E tudo isto numa sopa populista que identifica a "democracia" com os "políticos" e estes com o "estado a que isto chegou". A Grécia e a Itália estão a dar-nos o sinal: a democracia é um resíduo espúrio que os senhores da finança, ancorados no eixo franco-alemão, não têm dificuldades em descartar se for essa a melhor forma de, para utilizar um eufemismo que agradaria a Cavaco Silva, "empobrecer dignamente". Obrigada a dar-se a ver desta forma, a força dos fortes tem, contudo, a fraqueza dos gestos impositivos. Talvez os italianos o percebam mais rápido do que se pensa.
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