segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

É o mérito, estúpido!

O Secretário de Estado do Emprego, Pedro Silva Martins, tem um CV de invejável calibre. Sucede que, no meio de toda essa produção académica, pontifica um working paper, publicitado, aliás, na imprensa, em que testa uma hipótese trivial: as nomeações para cargos no sector empresarial do Estado tendem a aumentar antes e depois dos ciclos eleitorais.

Nada disto é novo, mas a trivialidade deste trabalho é compensada pela ilustração cabal do fenómeno da porta rolante. E pelo título que o emérito professor catedrático do Queen Mary College da Universidade de Londres, lhe deu: Compadrio ou Nepotismo , à escolha que vos convier. Se fosse mauzinho, debateria a ironia involuntária do título e do tema, mas deixemos isso para outros carnavais.

Duas citações para nos rirmos colectivamente:
"State-owned firms can carry out a number of tasks that may be less effi ciently produced by the private sector. However, it has been shown abundantly that assuming the benevolence and public-spiritedness of politicians is not always appropriate - and their management of such firms may be another important example. For instance, politicians can use those firms to give jobs to cronies, at the expense of the efficiency of the public sector, equity, and general welfare."
"The post-elections hirings spike is particularly strong if the new government is of a different political colour than its predecessor, again as predicted by the model. All findings hold when
taking the private sector as a control group and in many di fferent subsets of the main data,
including specific industries, time periods, and job levels. The latter results point towards
the pervasiveness of cronyism within public-sector firms, which are not restricted to a small number of high-level positions.
Torna-se óbvio concluir que as fundações e institutos públicos fazem parte deste ecossistema. E, para que conste, não estou a fazer a apologia da extinção furiosa de fundações e institutos públicos: fazê-lo acarretará a emergência de entidades reguladoras que criarão novas e mais perniciosas estruturas de oportunidades para a corrupção, tráfico de influências ou pura e simples estupidez, como a do senhor que garantia, de joelhos no chão, frente a José Gomes Ferreira, que não existe cartel nenhum nos combustíveis, cruzescredovalhamossenhor.

Vem isto a propósito de uma notícia que dá conta da possibilidade de Paulo Rangel ser lançado para a Casa da Música, como parte do confronto épico entre esses titãs da política portuguesa, Rui Rio e Luís Filipe Meneses.

A notícia fala por si. É ler e chorar pela República.

A coisa não acaba aí. Também está lá isto:
Certo é que, como já garantiu Nuno Azevedo, haverá uma renovação do conselho de administração, actualmente presidido por José Manuel Dias da Fonseca, e que se estenderá, ao que tudo indica, ao conselho de fundadores, presidido por Artur Santos Silva, mas cujo cargo o chairman do Banco Português de Investimento (BPI) deverá abandonar, depois de na semana passada ter sido nomeado sucessor de Rui Vilar na administração da Fundação Gulbenkian.
Um parágrafo sumarento mostra que há um trabalho longo a fazer, se quisermos compreender e desvelar as estruturas de poder das elites portuguesas, revelando redes relacionais que evocam a imagem de uma estratosfera social e nos permitem compreender por que razão não vale a pena falar, a esta coorte de pretores e senadores, das desigualdades e das causas profundas do subdesenvolvimento socioeconómico de Portugal. É um mundo em que €485 permitem vidas fáceis. É um universo onde democratizar a economia é blindar monopólios e rezar no altar do liberal-paternalismo. Capitalismo para os pobres, socialismo para os ricos. Pim.

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