A acção testemunhada neste vídeo realizou-se há pouco mais de um ano, na manhã de 30 de Setembro de 2010, um dia após a divulgação do 3º pacote de medidas relativas ao Pacto de Estabilidade e Crescimento, ainda durante o o XVIII Governo Institucional. A iniciativa partiu dos/as participantes no “ensaio sobre o desemprego”, uma oficina de teatro forum/teatro do oprimido dirigida essencialmente a desempregados/as, mas também a trabalhadores/as precários/as. Pretendíamos realizar uma acção que ajudasse a dar visibilidade à burocracia que enfrentam as pessoas desempregadas, o pesadelo que é enfrentar uma máquina burocrática que nos olha com desconfiança. Estava então a acabar o prazo para a entrega da prova de “condição de recursos” pelos beneficiários de prestações sociais. O PEC3 veio, entre outras medidas, anunciar aumento de impostos, um indicador de que sobreviver se tornaria mais caro e mais difícil. Depois disso muita coisa já aconteceu: do acordo da Troika à consagração de um governo entusiasta na sua aplicação, resta-nos a urgência da resistência à maior rapinagem de direitos feita em Portugal desde o 25 de Abril.
Há um comentário que se ouve nesse vídeo e que me parece crucial: Estamos num país livre ou não estamos? Porque afinal é a defesa da democracia e das condições materiais para concretizá-la - a liberdade de expressão, de organização (incluindo a sindical e a política), a capacidade de tomarmos decisões colectivas quanto ao nosso futuro, no respeito pelos direitos e liberdades de cada um/a de nós, no reconhecimento de que não há democracia que resista a um aumento brutal da desigualdades - o maior desafio que hoje enfrentamos. Responder a um desafio destes não é já para amanhã, não estou a ver como possa ser. Mas será para um dia destes, sob pena de ser feita tábua rasa em relação ao pouco que resta dos avanços civilizacionais conquistados no último século. Nessa altura será mais difícil pois teremos de começar da estaca zero.
Não substimemos a importância e a dificuldade desse desafio. Implica a superação da cultura, da retórica e da prática individualista que constituiu o mote instituído ao longo das últimas décadas. Implica a reaprendizagem da acção colectiva com base na diversidade de experiências de cada um/a, sem manual de instruções, ou apesar da sua multiplicação. Implica a superação do medo da política, ou do desgaste que a política (e o sistema político, e os partidos) tem sofrido - alguém me disse há tempos, com sinceridade, “não gosto da política, a política é suja”, como se tratasse de uma actividade humana imunda na sua essência - e a sua reapropriação.
Implica ainda a mobilização e reinvenção das nossas capacidades, das nossas forças. Quando relembro o referido vídeo, pergunto-me: o que foi entretanto feito da vida destas pessoas? Como têm sobrevido face autentica rapinagem de direitos e de dignidade a que se assistiu nos ultimos anos? Com estarão as dezenas de milhar que entretanto ficaram desempregadas? E as que entretanto ficaram sem qualquer protecção social? Os milhões de pessoas que vêem a sua vida mais e mais precária? Como fazem para ir além da sobrevivência, para exercerem os seus direitos de cidadadania, para participarem nas grandes decisões colectivas que se colocam hoje quanto ao nosso futuro?
No sábado, assisti a uma grande manifestação de descontentamento e ficou a promessa de muito mais. Deu-me alento também para outras lides. É que diz-se por aí que Outubro é mês de lutas mil.
também publicado em tambemjogamosapato
Há um comentário que se ouve nesse vídeo e que me parece crucial: Estamos num país livre ou não estamos? Porque afinal é a defesa da democracia e das condições materiais para concretizá-la - a liberdade de expressão, de organização (incluindo a sindical e a política), a capacidade de tomarmos decisões colectivas quanto ao nosso futuro, no respeito pelos direitos e liberdades de cada um/a de nós, no reconhecimento de que não há democracia que resista a um aumento brutal da desigualdades - o maior desafio que hoje enfrentamos. Responder a um desafio destes não é já para amanhã, não estou a ver como possa ser. Mas será para um dia destes, sob pena de ser feita tábua rasa em relação ao pouco que resta dos avanços civilizacionais conquistados no último século. Nessa altura será mais difícil pois teremos de começar da estaca zero.
Não substimemos a importância e a dificuldade desse desafio. Implica a superação da cultura, da retórica e da prática individualista que constituiu o mote instituído ao longo das últimas décadas. Implica a reaprendizagem da acção colectiva com base na diversidade de experiências de cada um/a, sem manual de instruções, ou apesar da sua multiplicação. Implica a superação do medo da política, ou do desgaste que a política (e o sistema político, e os partidos) tem sofrido - alguém me disse há tempos, com sinceridade, “não gosto da política, a política é suja”, como se tratasse de uma actividade humana imunda na sua essência - e a sua reapropriação.
Implica ainda a mobilização e reinvenção das nossas capacidades, das nossas forças. Quando relembro o referido vídeo, pergunto-me: o que foi entretanto feito da vida destas pessoas? Como têm sobrevido face autentica rapinagem de direitos e de dignidade a que se assistiu nos ultimos anos? Com estarão as dezenas de milhar que entretanto ficaram desempregadas? E as que entretanto ficaram sem qualquer protecção social? Os milhões de pessoas que vêem a sua vida mais e mais precária? Como fazem para ir além da sobrevivência, para exercerem os seus direitos de cidadadania, para participarem nas grandes decisões colectivas que se colocam hoje quanto ao nosso futuro?
No sábado, assisti a uma grande manifestação de descontentamento e ficou a promessa de muito mais. Deu-me alento também para outras lides. É que diz-se por aí que Outubro é mês de lutas mil.
também publicado em tambemjogamosapato
Nenhum comentário:
Postar um comentário