Mário Draghi, antigo Presidente da Goldman Sachs Europa, toma hoje posse na presidência do Banco Central Europeu. Draghu presidia ao Banco de investimentos americano no momento em que este, nos anos 2000, ajudou a Grécia a mascarar as contas públicas. O seu papel vai ser o de preservar os interesses dos bancos na atual crise Europeia.
Podíamos até aqui interrogarmo-nos sobre as razões pelas quais o BCE e Jean-Claude Trichet se opunham de modo virulento – mesmo contra a Chancelaria alemã – a toda e qualquer ideia da reestruturação da dívida Grega.
Esta atitude parecia incompreensível, dado que todos os analistas, incluindo os economistas dos bancos, concordavam em considerar que a Grécia não pode cumprir as suas obrigações de dívida na atuais condições contratuais. A inevitabilidade de um reescalonamento, mesmo uma anulação parcial, parece ser consensual. Querer atrasar a reestruturação não fará mais do que agravar o desgaste económico e social provocados pelos planos de austeridade brutais e impopulares impostos sobre os Gregos.
A nomeação de M. Draghi clarifica as coisas. O BCE defende não os interesses dos cidadãos e contribuintes europeus, mas o interesse dos bancos. Um estudo britânico citado ontem no Les Echos tem o mérito de quantificar claramente o processo em curso: este estudo indica que graças ao «pacote de ajuda» da Grécia e ao «mecanismo europeu de estabilidade» posto em prática pelo BCE, FMI e UE, «a fasquia de dívida Grega nas mãos de contribuintes estrangeiros passará de 26% para 64% em 2014. Isto quer dizer que a exposição de cada agregado familiar da zona euro passará de 535 euros hoje para 1450 euros.»
O «salvamento» da Grécia é assim uma gigantesca operação de socialização de prejuízos do sistema bancário. Trata-se de transferir o essencial da dívida Grega – mais também da dívida Irlandesa e Espanhola – das mãos dos banqueiros para as dos contribuintes. Será então possível passar os custos da inevitável reestruturação destas dívidas para os orçamentos públicos Europeus.
Como dizem os Indignados espanhóis, «esta não é uma crise, é uma fraude!» O Parlamento Europeu votou ontem o «pacote de governação económica» que reforma o pacto de estabilidade, reforçando as restrições sobre os orçamentos nacionais e as sanções contra os países em infração. O Conselho europeu reúne-se hoje e amanhã para completar os trabalhos. E não será a próxima nomeação de Christine Lagarde como cabeça do FMI que reduzirá a influência dos bancos sobre as instituições financeiras internacionais - bem pelo contrário.
Felizmente, as resistências sociais e de cidadania cruzam-se por toda a Europa. Governar para os povos ou governar para a finança? A resposta é hoje clara: será preciso que os povos europeus retomem o poder para juntos construirem uma outra Europa. As Attac de toda a Europa organizam de 9 a 13 de Agosto uma Universidade Europeia de movimentos sociais em Frebourg, na Alemanha. Será neste verão um dos locais principais de coordenação das resistências e de construção de das alternativas europeias.
Tradução de Tiago Neves
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