por Adam Ramsay | Uk Uncut
Cerca de 50% das falências americanas têm origem em contas médicas. Quando falamos de «hipotecas sub-prime», falamos de pessoas reais a enfrentar a ruína financeira. A principal razão desses americanos serem expulsos das suas casas é ficarem doentes.
Quando todo um sistema económico está podre, não se pode culpar apenas um dos seus aspectos pelo colapso. Mas pode dizer-se que essa peça da engrenagem também falhou. E assim é com a saúde nos EUA. Uma das principais razões pelo desmoronamento da economia global é o facto de no país mais rico do mundo milhares de pessoas terem sido forçadas a deixar as suas causas quando ficaram doentes. Tiveram de escolher entre a casa e a saúde. E não honraram as hipotecas.
Os banqueiros construíram umas torres enormes de riqueza imaginária, ao jogarem com o valor dessas casas. À medida que as despesas médicas foram subindo, à medida que mais e mais famílias enfrentaram a insolvência, essas torres foram derrubadas. E esmagaram uma economia que tinha começado a venerar a sua altura demente e majestosa.
Ou seja, as corporações que dirigem a saúde nos Estados Unidos têm uma responsabilidade enorme na queda do crédito. Foram elas que causaram as falências. Foram elas que forçaram as pessoas a deixar as suas casas. Foram elas que deram um chuto na base da nossa economia desequilibrada.
E são elas que estão agora a tentar assumir o controlo da saúde na Grã-Bretanha. Quando Andrew Lansley fala da reforma do Sistema Nacional de Saúde (SNS), é preciso que fique claro do que é que está a falar. Porque «reforma» não é o que lhe chama o de The Lancet, que usa a expressão «o fim do nosso Serviço Nacional de Saúde.» O que o governo está a tentar fazer não é uma reestruturação — é um leilão.
E, como em todos os leilões, o vencedor será quem fizer a maior oferta. É por isso que as corporações médicas norte-americanas estão tão empenhadas em que a lei da Saúde e Assistência Social seja aprovada; é por isso que empresas como a United Health estão tão satisfeitas por integrar os think tanks favoritos do Governo. Porque sabem que este secretário de Estado está a fazer tudo para deixar o SNS na situação ideal para que elas possam devorar o seu recheio. Sejamos também claros quanto à dimensão deste apetite: em 2010, Stephen J. Hemsley, presidente United Health, recebeu 10 810 131 dólares. Ao contrário do nosso relativamente magro SNS, a empresa está inchada e é ineficiente: carrega a gordura das suas vacas gordas.
Quando nos dizem que essas empresas irão melhorar a eficiência dos nossos cuidados médicos, estão simplesmente a mentir. Todos os factos, todas as comparações internacionais, todas as estatísticas, todos os factos mostram que os sistemas de saúde privados com os seus executivos bem pagos e accionistas exigentes têm custos muito mais elevados. Do que estas empresas percebem é da eficiência do comboio sobrelotado, da eficiência dos call centers com falta de operadores, da eficiência do enriquecimento rápido dos seus executivos: da eficiência dos desbaratinadores de activos e dos especuladores. Isto não é exactamente o mesmo que a eficiência de um sistema de saúde bem gerido.
Estas empresas construíram o sistema de saúde mais caro e explorador do planeta — o sistema de saúde que Obama tanto se empenhou em reformar. Os seus executivos empurraram milhões de pessoas doentes para a bancarrota para poderem continuar a viver uma vida luxuosa. São ineficazes e inadequadas, gananciosas e destrutivas. Não há lugar para elas na nossa ilha. Na Grã-Bretanha, as decisões médicas baseiam-se nas necessidades, não na ganância empresarias; e tomam-se em nome dos utentes, e não dos lucros. Temos de nos manter unidos e nunca esquecer isto. Várias gerações neste país lutaram por um Sistema Nacional de Saúde; quando os nossos avós regressaram da Segunda Guerra Mundial, ele foi finalmente implementado. E há 60 anos que defendemos o que eles montaram e nos deixaram: um sistema de saúde que nos pertence a todos e que é dirigido em nome de nós todos. Hoje, o legado dos nossos avós enfrenta o maior ataque de sempre; por isso, temos de montar a maior defesa de sempre.
Mas temos de fazer mais do que proteger o SNS. Não foram apenas as empresas de saúde americanas que causaram a catástrofe económica. Ao olhar para trás, é inacreditável que praticamente nada tenha sido feito para re-estruturar os nossos bancos.
É uma ironia amarga que o governo de Cameron esteja a usar o caos de uma crise financeira para dar cabo do SNS e o substituir pelas sementes do sistema americano, que tanto contribuiu para a crise. É revoltante que nada se tenha feito para reformar os bancos que causaram o crash. No sábado [27 de Maio], vamos exigir o fim desta inversão ridícula das coisas. Vamos agir directamente sobre delegações de vários bancos, por todo o país. Vamos exigir que o governo tire o garrote do Sistema Nacional de Saúde e o aplique antes aos bancos inchados. Junta-te a nós!
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