Por Mark Weisbrot | The Nation
A crise da zona euro é, de certa forma, menos complicada na sua origem do que muitas pessoas têm dito. O problema fundamental é o facto de a Grécia, a Espanha, a Irlanda e Portugal estarem presos numa recessão (ou próximos dela) e não terem sido autorizados a adoptar as políticas necessárias para sair. Em 2009 a maioria dos países seguiram políticas expansionistas para sair da recessão: por exemplo, um estímulo fiscal ou uma política monetária expansionista (visível nos mais de 2 biliões de dólares emitidos pela Reserva Federal dos EUA desde o início da nossa recessão). Nalguns casos os países também foram ajudados pela desvalorização da moeda, o que fez aumentar as suas exportações e diminuiu as suas importações.
Os países europeus periféricos estão presos numa união monetária cuja política é ditada pelo Banco Central Europeu (BCE), que é de tendência muito mais à direita que a Reserva Federal dos EUA e está muito pouco interessado em ajudá-los. Por terem aderido ao Euro, estes países também deixaram de controlar a sua taxa de câmbio; e a política fiscal está a seguir uma direcção errada, com a imposição de cortes orçamentais, sob pressão da Comissão Europeia, o BCE e o FMI.
Assim, não é de espantar que a Espanha tenha uma taxa de desemprego superior a 20%, que na Grécia esta seja de quase 15% enquanto o país se afoga ainda mais em dívidas e que na Irlanda o rendimento per capita tenha baixado cerca de 17% desde o início da crise. Portugal acaba de assinar um acordo com o FMI que ameaça prolongar a recessão por mais dois anos.
Economicamente nada disto faz sentido, excepto do ponto de vista dos credores que querem assegurar que estes países são castigados pelos seus “excessos” — embora, na maioria dos casos, a situação não tenha sido provocada pelo excesso de créditos, mas sim pelo colapso da bolha e pela crise financeira mundial. Infelizmente o que prevalece no seio das autoridades europeias é o ponto de vista dos credores.
O director do FMI, Dominique Strauss-Kahn, que está hoje detido e acusado de crimes sexuais, compreendia a futilidade de algumas destas políticas, mas não tinha poder para as mudar consideravelmente, uma vez que a direcção do FMI está subordinada às autoridades europeias (e ao Tesouro dos EUA). A sua partida iminente é pouco provável que tenha algum impacto, embora possa acelerar o inevitável processo de reestruturação da dívida grega.
A Argentina recusou-se a pagar a sua dívida pública externa em 2001, depois de anos a obedecer ao caminho do FMI para a recuperação, afundando-se cada vez mais na recessão. A moeda foi desvinculada do dólar e, apesar da queda livre acelerada da economia durante três meses, recuperou e cresceu 63% durante os seis anos seguintes. Em três anos a Argentina tinha alcançado o nível de produção anterior à crise; pelo contrário, a Grécia não deverá atingir o seu PIB pré-recessão durante pelo menos oito anos.
Quando é que isto acaba? Enquanto estes governos estiverem empenhados em seguir políticas que encolhem as suas economias, a sua única esperança é que a economia global acelere e os recupere através do aumento da procura de exportações. Isto não é expectável no futuro próximo — o resto da Europa não está a crescer assim tão rapidamente e a economia dos EUA ainda está frágil.
Os governos da Grécia, Portugal e Irlanda têm que dizer às autoridades europeias que não aceitam quaisquer acordos de “resgate” que não permitam o crescimento das suas economias. Este tem que ser o princípio: ajuda, não punição. A Espanha não entrou ainda num acordo de empréstimo, mas está em situação semelhante. Estes governos têm um grande poder de negociação que não utilizam, já que as autoridades europeias têm muito medo de uma expulsão e/ou saída do Euro de qualquer um deles. E as autoridades europeias têm os meios para ajudar cada uma destas economias a recuperar através de políticas macro-económicas expansionistas. Só precisam que lhes digam que “não há alternativa”.
(Tradução: Helena Romão)
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