sábado, 4 de fevereiro de 2012

A crise dos media

Os operadores de Televisão deveriam procurar distinguir-se através da oferta de conteúdos informativos, colunistas incluídos, necessariamente diferentes. Acresce que a omnipresença de alguns comentadores numa pluralidade de meios acaba por afunilar o acesso à opinião, reduzindo a pluralidade e, no limite, a democracia no sentido pleno do conceito.

A solução, apesar de barata, não é a mais lógica, nem a mais plural, nem, sequer, a mais "editorial", do ponto de vista das "audiências". Caso extremo é o de um certo Fiscalista que vagueia, de manhã à noite, entre os 3 canais especializados de notícias, para dizer banalidades e condensar as notícias publicadas nos jornais e blogues do dia. Enfim...

Quanto ao tema

Na minha modesta opinião, os jornalistas, em geral, e os "meios" (todos), falharam gravemente na sua missão de transmitir ao País e aos Cidadãos uma visão crítica - inteligente, interpelante e adequada - acerca do que realmente se passa, e aconteceu nos últimos anos. Situação que subsiste e constitui a motivação principal do meu post. Os jornalistas e os meios cederam à tentação fácil de demonizar Sócrates, apresentando-o como causador exclusivo dos funestos acontecimentos que atingiram o nosso país. É verdade que Sócrates frequentemente se pôs a jeito. Mas os jornalistas tinham a responsabilidade de fazer melhor para esclarecer a opinião pública. Muito melhor! A deontologia a isso os obrigava!

Eis o que tem sido escamoteado e/ou ficou por dizer nos últimos tempos e inquina, actualmente, a leitura que muitos cidadãos - erradamente - fazem da situação:

1 - Portugal tem problemas "congénitos", transversais a toda a sociedade e, por isso, omnipresentes na vida social, económica e política desde... deixa ver... os Descobrimentos! O mais importante, pela sua "ubiquidade" em todos os layers da sociedade, é o "tráfico de influências", muito mais que a corrupção propriamente dita, que aparece em segundo lugar! São dois fenómenos distintos que, por conveniência colectiva, costumam ser considerados como se apenas de um se tratasse!

2 - Sócrates, que começou por tentar romper com esta realidade, abandonou esse caminho e cedeu aos diversos grupos de interesses e corporações, traduzido na remodelação do Ministro da Saúde; Tem culpas próprias, por isso, mas não mais que todos os seus antecessores e, de um modo geral, todos nós!

3 - Há muito é claro que a crise é sistémica e corresponde a um downgrade da Política e da qualidade dos Políticos na condução dos destinos dos países e sociedades contemporâneas;

4 - Há muito é claro que o sistema financeiro, sem regras nem valores que não sejam o lucro rápido e fácil, está entregue a arrivistas ambiciosos e ávidos de subir "em acelerado" alguns degraus na escala da fortuna a qualquer preço, sem considerações de solidariedade ou responsabilidade social;

5 - Que a UE, e as suas instituições, ébrias com os respectivos umbigos, deixaram de funcionar, abandonando os valores fundadores dos Pais da CEE, e a responsabilidade (co-responsabilidade) dos países nas decisões entregues a quem, por força das circunstâncias e por desejo inato, os aceitou de bom grado: a Alemanha e a sua Chanceler que, de resto, cresceu longe da maturação do projecto Europeu;

6 - A voracidade de alguns países levou à criação de uma moeda única (o Euro) para países com realidades económicas bem diferentes, sem dotar a Moeda, e os países signatários, dos meios adequados à introdução de medidas próprias de correcção em caso de necessidade;

7 - Não acredito que os criadores do Euro fossem estúpidos, ingénuos ou, apenas, maus economistas! Por isso, não creio que tudo o que se está actualmente a passar na zona Euro (em toda a zona euro) não faça parte de uma Agenda há muito planeada - até agora em banho-maria - visando demolir o Estado Social e proceder a uma macro revisão constitucional, à escala da Europa, realizada "en passant" com a justificação (falsa), digo sob a chantagem, da inevitabilidade das medidas;

8 - É fácil de compreender que nada disto tem o que quer que seja a ver com o Sócrates ou qualquer outro. Ele era apenas o homem no lugar errado à hora errada;

9 - Há, portanto, dois assuntos distintos: os problemas "inatos" da portugalidade e os problemas derivados da crise financeira: norte-americana, primeiro, europeia, a seguir, e, por fim, mundial;

10 - Constata-se que o Capitalismo enferma do mesmo problema "essencial" que o Comunismo: o facto de ambos os sistemas serem especificamente humanos e, como tal, partilhando das mesmas debilidades e insuficiências dos seus protagonistas - os Homens!

11 - Não existe, mas não existe mesmo, qualquer problema NOVO nas dívidas públicas! Existe sim um problema ANTIGO de desequilíbrio na Balança de Transacções e de dívida externa (Pública e, sobretudo, Privada) e, como tal, de liquidez e sustentabilidade no sistema financeiro e nos bancos;

12 - Existe, portanto, um problema de raiz ideológica e para o qual está a ser apresentada como inevitável uma solução de matriz técnica. Um embuste ideológico e histórico, portanto!

Sobre Cavaco e os seus discursos...

- Cavaco é definido mais por aspectos da sua personalidade, enquanto indivíduo, que pelo seu pensamento político (não tem nenhum que dure o tempo suficiente para fazer história);

- É o político, de todos os tempos, que mais se cita a si próprio de forma explícita: este facto comprova à saciedade que intui o seu déficit de ideias, de projecto, de proactividade!

- Para compreender, e definir, Cavaco, basta esquecer o Político e centrar-se no Indivíduo: vendo bem, todo o seu comportamento público ilustra um sujeito basicamente cobarde, mesquinho, arrivista e vingativo. Daí os discursos redondos, susceptíveis de múltiplas interpretações (e recuperáveis com um novo sentido mais tarde), daí a sua obsessão com a segurança, daí a circunstância de a única assertividade que se lhe conhece ser coeva do facto de visar adversários "no chão";

- O discurso em apreço, deve, de acordo com o Perfil acima, resultar da sua tomada de consciência do (temido) encontro com a história. Neste momento há demasiada gente de mérito a condenar o comportamento do Presidente (ou melhor, da sua omissão). Creio que Cavaco se deu conta que tem um rendez-vous com a História e entrou em pânico. Só isso explica o discurso de Florença e os comentários acerca do Orçamento.


- As boutades acerca da reforma advêm dos aspetos de caráter referidos supra.

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