Como noticiava o Público do passado dia 5, prossegue em pleno ano lectivo a debandada de alunos dos colégios e escolas privadas, em resultado das crescentes dificuldades dos pais para pagar as respectivas mensalidades. Procurando conter a «fuga», algumas destas instituições até já optaram por reduzir a oferta de actividades extracurriculares ou o valor das propinas, chegando mesmo a criar «pacotes anticrise» (reduzindo o valor global da mensalidade, mais alimentação e inscrição numa actividade extracurricular, de 500€ para 480€).
Se tudo isto é revelador dos «ajustamentos» práticos a que o «empobrecimento» austeritário obriga, já as declarações do director executivo da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo (AEEPC), Rodrigo Queiroz e Melo (na foto), são de facto extraordinárias. Como Saulo que se vê subitamente encandeado por uma luz imensa, Queiroz e Melo diz ser necessário «garantir às famílias com maiores dificuldades o apoio para a permanência dos filhos no ensino privado, em defesa do seu percurso educativo, mas também para evitar um aumento substancial dos custos públicos» pois, prossegue o director executivo da AEEPC, «aumentar os custos do Orçamento do Estado e fechar escolas privadas quando as famílias estavam satisfeitas é uma equação em que toda a gente perde» (sublinhados meus).
Notável, não é? O mesmo Queiroz e Melo que, há pouco mais de um mês, se mostrava tão surpreendido com a generosa e inexplicada oferta de 12 milhões de euros adicionais do ministro Nuno Crato aos estabelecimentos de ensino privado, como indiferente ao fecho de estabelecimentos públicos sem qualquer fundamento pedagógico e aos brutais cortes no sistema público consagrados no OE de 2012 (cerca de 18% face ao ano anterior).
Que se passa, senhor director executivo? Já esturraram o dinheiro todo ou é mesmo só mais uma demonstração de alarve despudor?
(Publicado originalmente no Ladrões de Bicicletas)
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