Muito se tem dito, e escrito, acerca das opções de política
financeira e económica do 1º ministro Passos Coelho, alguns elogiando outros
denegrindo. A meu ver, todos estão errados.
É comum, entre as mentes menos esclarecidas, aceitar de
forma acrítica ou rejeitar sem fundamento, as teorias verdadeiramente
revolucionárias e que representam um vigoroso salto em frente no pensamento e
conhecimento humanos. E Passos está a ser vítima desse tipo de inércia tão próprio
das pessoas vulgares. Vejamos mais detalhadamente as razões que me assistem na
formulação de tão categórica asserção.
Começo por esclarecer os mais cépticos sobre as razões que
me têm tolhido o verbo na análise dos aspectos macro-económicos da crise que
afecta a zona Euro, em particular, e a União Europeia, em geral. Tal facto
deriva apenas do “encolhimento”dos meus rendimentos – assoberbado pelas
necessidades do dia a dia, as minhas atenções têm recaído sobre questões cada
vez mais pequenas, isto é, micro económicas, como a renda da casa, a
alimentação, a conta da farmácia, etc.. Aliás, este processo de shrinkagem tem-se estendido
paulatinamente à maioria dos aspectos da minha existência, gerando o
interessante paradoxo de as minhas atenções incidirem sobre questões cada vez
mais pequenas na razão inversa do tamanho que os meus problemas vão adquirindo.
Mas, retomando o Passos, e o erro de paralaxe dos seus
apoiantes e detractores: o que acontece é que o país, e até mesmo o mundo, não
estavam preparados para a revolução que este precursor está a introduzir nas Teorias
Económicas. Passos Coelho acaba de fundar uma nova escola do pensamento
económico que, por razões adiante explicadas, denominarei de Neo-neo-Liberalismo neo-Keynesiano. E
que, se houver justiça neste mundo, vai granjear-lhe o merecido reconhecimento
à escala planetária, e, porque não, também da Academia Sueca, premiando-o com
um justo Nobel da Economia.
É vox populi entre
os leitores atentos de “An Inquiry
into... Wealth of Nations”, vulgo “A Riqueza das Nações”, de Adam Smith,
que a beleza metafísica, quase poética, do fenómeno da regulação dos Mercados
resulta da acção de uma “mão invísivel”. E é aqui, pasme-se, que Passos dá
início à sua revolução epistemológica. Defensor acérrimo da transparência,
Passos inova, articulando, qual demiurgo, as suas convicções morais com o
punctus saliens da crença liberal. Com Passos eis que a “mão” se torna não
apenas “visível” como até é publicada em Diário da República.
As nomeações para cargos públicos, os sucessivos escãndalos
do BPN, do Lima, do Loureiro e restante quadrilha, da sua entourage onde brilha
como eminence grise o Cardeal Richelieu, digo o Ângelo Correia, as
privatizações do sector energético a favor do Estado Chinês, o ministro Relvas
e a sua Angola’s connection, o Álvaro, que deve ter fumado parte do relvas,
confundindo-o com Erva, a protecção dos especuladores e da banca, etc. etc.
Poderíamos ficar aqui a tarde toda a elencar exemplos de como Passos, apesar de
Liberal, rompe com o paradigma mater e
faz um upgrade teórico para a “mão
visível”, como regulador do sistema.
O mesmo se diga quanto ao domínio Público: é conhecida a
aversão dos liberais e neo-liberais aos Impostos, em particular, e ao Estado,
em geral. Subindo os impostos e empregando os amigos no Governo, Passos
estabelece uma nova fronteira no ideário Liberal – o Estado grande é nocivo
excepto quando o tamanho resulta de albergar os correlegionários políticos. Os
impostos são sempre maus, excepto se contribuírem para redistribuir a riqueza,
quer dizer, para empobrecer a larga maioria e enriquecer alguns poucos.
Provar que Passos é Liberal, mesmo que heterodoxo, não
representa dificuldade de maior. Mas como sustentar que Passos é, ao mesmo
tempo, Keynesiano?
Como se tem dito, qualquer pessoa que tenha lido o “Economics”,
do Samuelson, percebe as implicações Keynesianas de algo que Samuelson denomina
como “efeito multiplicador”. A introdução de um input externo na economia (por
exemplo investimento público) vai gerar Emprego, com impacto no Rendimento das
Famílias, logo na Procura Interna e, assim, nos Lucros das empresas, no
rendimento do capital traduzido nos Juros e, por fim, nas Rendas. Isto é, o PIB
aumenta, o Rendimento Disponível aumenta, logo, a cobrança de impostos cresce
igualmente, equilibrando o investimento inicial e permitindo reiniciar o ciclo
num plano superior. Daí o nome “multiplicador”!
Um neo-liberal vulgar, fugiria a sete pés desta formulação.
Já com um Neo-neo-Liberal como Passos, a coisa fia mais fino, sobretudo, se,
tal como o nosso 1º, tiver o arrojo de romper com as ideias feitas e os
preconceitos próprios das mentes ordinárias e piegas.
Passos não recusa liminarmente a ideia do “efeito
multiplicador”. Pelo contrário, adopta-o, mas introduz-lhe inovações teóricas apenas
ao alcance do entendimento dos mais dotados. Tal como qualquer neo-Keynesiano,
Passos aceita que a introdução de um input externo na economia vai produzir um
“efeito multiplicador”. É por esta razão que o classifico como neo-neo-Liberal
neo-Keynesiano. Só que, diferentemente dos restantes Keynesianos, Passos elege
como input externo a investir, não capital mas... Trabalho! E Trabalho à borla:
é aqui que reside a genialidade de toda a ideia!
Introduzindo o factor de produção Trabalho à borla, Passos obtém
igualmente um efeito multiplicador, neste caso, multiplicador da pobreza, do
desemprego, das falências, do incumprimento, da infelicidade e da miséria de um
modo geral. Estes efeitos, que podem ser considerados indesejáveis pelos mais
piegas, não tiram o sono ao nosso 1º uma vez que a substância do seu pensamento
político é de natureza... moral. Que querem? O tipo acabou o curso já tarde e
não teve tempo de ler aquelas 50 páginas iniciais dos manuais das cadeiras,
onde se distinguem os diferentes objectos das ciências, e os digest que
constituem a base da sua formação intelectual não abordam este assunto.
Sendo a questão moral e não política... todo o crime merece
punição. E, como somos todos culpados - preguiçosos, piegas e culpados, muito
culpados - logo, qualquer castigo é merecido! Custe o que custar!
Custe o que custar, bem entendido, aos investidores eleitos
por Passos! Os trabalhadores!
Para aqueles que acharem suspeito o texto acima, sempre digo
que o Passos poderá sempre invocar em sua defesa a condição que partilha com
muitos colegas seus, como por exemplo todo o elenco dos Marretas!
Afinal, se vocês também tivessem uma mão enfiada pelo cú
acima, era muito natural que um destes dias perdessem a voz de barítono e
passassem a dizer, em tom de contralto: Achtung! Schnell! Schnell! Deutschland,
Deutschland, über alles!
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