sábado, 9 de abril de 2011

E, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos

Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.

José Saramago, Cadernos de Lanzarote, Diário III

11 comentários:

  1. Esteja descansada que em Portugal o Estado representa 50% da economia e vivemos todos muito bem. Tem dado um resultadão.

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  2. Sim, aliás, o problema é mesmo o Estado, não é? Quando não tivermos escolas, nem hospitais, nem trabalho, mas a finança continuar de viva saúde e a recomendar-se na bolsa vamos estar todos muito melhor. É só olhar à nossa volta, a receita neoliberal funciona em pleno - por exemplo, nos EUA, aquilo é só dinheiro e qualidade de vida. Mas pronto, a culpa será dos professores, dos bombeiros, dos médicos, dessa gentalha toda, e nunca dos bancos, e das empresas e das grandes fortunas que fogem aos impostos. Aliás, isto é só conversa de poetas, não há dados nem estudos nem economistas nem gente séria que o diga.

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    1. Se os lideres dos paises estao feitos com os das grandes empresas, nomeadamente bancos, como vao dizer? se não estivessem também feitos com os media ainda havia esperança.

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  3. Diga isto http://robertreich.org/post/4344201496

    ou isto http://www.eugeniorosa.com/Sites/eugeniorosa.com/Documentos/2011/21-2011-BCE-ajuda-especulação-banca.pdf

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  4. O que vocês não diriam se fosse o BCE a emprestar dinheiro aos estados... enfim, mas, Mariana, que diga o quê? (é que a "resposta" do Paulo não tem nada a ver com o que disseste, dos bombeiros e isso)

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  5. "Nacionalize-se tudo, nacionalize-se o mar e o céu, nacionalize-se a água e o ar, nacionalize-se a barbearia e a pastelaria, nacionalize-se a nuvem que passa, nacionalize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, para florão e remate de tanto nacionalizar, nacionalizem-se os Povos, entregue-se por uma vez a exploração deles a burocratas do partido, mediante nomeação internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, nacionalize-se também a puta que os pariu a todos."
    José Saramago, Adaptado

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  6. Eduardo, uma zona monetária óptima teria que incluir a modalidade de transferências que refere. Veja o caso da Austrália e dos Estados Unidos. A zona euro não inclui e essa é uma das razões pelas quais é totalmente disfuncional.
    Não falando pela Mariana, "que diga" o seguinte: as privatizações não incrementam a eficiência de uma firma como é postulado pela ortodoxia do Consenso de Washington. Pode discordar disto (eu recomendaria a leitura deste livro: http://press.princeton.edu/titles/8494.html - está longe de ser uma sugestão esquerdalha, como talvez espere), mas o seu argumento acerca do peso do Estado na economia não é particularmente forte. Não estabelece uma relação causal. O peso do Estado na economia sueca é elevado e vive-se bem. O peso do Estado na economia japonesa é relativamente baixo e também se vive bem. Não é uma questão de números ou percentagens, é uma questão de qualidade.
    E digo-lhe também uma coisa: a piadinha do texto adaptado não resultou. Má tentativa. É que "nacionalizar" significa retornar à res publica. E, que eu saiba, o ar e os sonhos são bens públicos até em sentido económico. "Nacionalizar" os povos havia de ser giro... voltávamos a 1848 e pimba. E quanto a nacionalizar a puta que os pariu a todos... já que se socializa a dívida, porque não nacionalizar a puta que os pariu a todos também?

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  7. Luís, muito interessante o seu comentário. Com Estado reduzido, encontra exemplos de bom desempenho económico. Com Estado pesado, encontra exemplos de tudo. O engraçado é que nos casos em que o Estado pesado resulta vai encontrar em termos históricos largos períodos de liberalismo e de intenso crescimento económico.
    E mais: os seus sonhos não sei, mas os meus sonhos são inteiramente privados, assim como os meus pensamento e opiniões (há livros que explicam o que são bens públicos). O Salazar é que achava que não.

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  8. Caro Eduardo, com Estado reduzido também encontra exemplos de tudo. Somália.

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