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O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em Portugal e o 25 de Abril
Vou pela rua e oiço “isto está pior do que antes do 25 de Abril”. Uma vez. Outra vez. Mais uma. Entro no café e volto a ouvir. Passo na sala e vejo o Otelo (!!!!) a dizer o mesmo na televisão. Ai. OK. Agora vou ter de parar. Isto ou tem por detrás estratégias para fazer recuar a democracia em Portugal, de querer reescrever a história relativizando regimes autoritários, violadores dos direitos humanos e de querer condenar a tradição revolucionária (como já se tem tentado fazer noutros momentos), ou, simplesmente, significa uma preocupante mistura de ingenuidade com ignorância – além de óbvia memória curta.
Portanto – e aceitando a possibilidade de haver dúvidas – comparemos então a coisa através do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em Portugal, uma medida comparativa usada para classificar os países pelo seu grau de "desenvolvimento humano" (que usa para isso os dados relativos à esperança média de vida, à educação e ao PIB per capita), a ver se nos esclarecemos.
*A fonte destes dados é a Pordata. Não existem dados disponíveis na Pordata relativamente à taxa real de escolarização para o Ensino Superior senão a partir de 1978, mas o crescimento é enorme. Existem dados disponíveis relativos ao nº de pessoas inscritas discriminados por sexo desde 1960.
E, mesmo faltando o perfil de distribuição de renda (os dados não estão disponíveis senão a partir de 90) – que há quem proponha ser incluído na avaliação deste índice (o que faz bastante sentido) - ficou claro, não? Nós vivemos hoje melhor do que vivíamos antes do 25 de Abril. Ponto.
E vejamos: não estamos sequer a falar de liberdades e garantias, dessa coisa tão volátil quanto preciosa. Dessas coisas pequeninas, pequeninas e simples como poder escrever este texto sem que a censura mo reveja ou mo impeça, poder sair do país sem ter que pedir autorização ao pai ou ao marido, ter uma constituição onde diga que não sou discriminada pelo meu sexo, raça ou orientação sexual, dizer o que penso sem ser presa, poder me divorciar, aceder a profissões que antes não me era possível, vejam lá... só coisas pequeninas, realmente. Como esta, tão bonita, que nos diz o artigo 21º da Constituição: temos o direito de resistir. E resistir é absolutamente contrário a desistir ou a renegar.
A democracia é um processo inacabado. Claro. O 25 de Abril é um processo inacabado. Também. Agora não nos falte memória à vida insultando esse dia extraordinário em que a democracia chegou ao país, trazendo com ela liberdade. Pelo contrário, temos é de ir para a rua com os cravos, afirmar os nossos direitos de cidadania mais e mais uma vez – todas as que forem necessárias - dizer que não esquecemos e que é também nossa responsabilidade e vontade exigir e participar para que as conquistas de abril sejam um facto crescente. Dizer que não aceitamos que os direitos passem a ser chamados privilégios ou que o nosso principal dever de cidadania é a aceitação.
O problema não é ter acontecido Abril. O problema é o que ainda nos falta fazer para que Abril seja pleno. O problema é estarem a querer roubar abril das nossas mãos.
também publicado em tambémjogamosapato
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