Um calor infernal invade o país. Há quem fale de uma normal e passageira antecipação do Verão. A mim parece-me já o FMI a fritar-nos em lume brando. O FMI não, que isso lembra ditaduras militares na América Latina, canções a preto e branco e expressões como «carestia de vida». Não, o que virá é o FEEF, que sendo um fundo e europeu remete-nos mais para auto-estradas, estufas no Alentejo e oportunidades de negócio para escritórios de advogados e empresas de consultoria. Ou então tanto faz o nome desde que se accionem os eufemismos: resgate, ajuda, auxílio, estabilização, assistência financeira.
Espera-nos um plano de austeridade que será caucionado pelos partidos que nos governam há décadas e que terá tão poucos matizes essenciais quanto maior for o apelo à inevitabilidade. E vai ser grande. É preciso rasurar as possibilidades de um outro caminho e omitir a injustiça dos cortes que se preparam: ao mesmo tempo que a banca paga menos IRC que o Sr. Reis da mercearia, perspectivam-se reduções nos salários, subsídios e pensões; ao mesmo tempo que as Parcerias Público-Privadas continuarão a alimentar clientelas económicas teme-se que um machado venha a pairar sobre a saúde e a educação públicas; ao mesmo tempo que o discurso político-económico entrará numa modorra monolítica, o país entrará em recessão. Mas também podemos ser um nadinha optimistas: ao mesmo tempo que a política austeritária e o discurso das inevitabilidades formarão um bloco coeso, crescerá a necessidade de uma alternativa.
Hoje é dia 7 de Abril e um calor infernal invade o país. Uma inglesa com as costas cor de camarão confessa ao seu parceiro: «what a nice weather». E ainda não viram nada.
Publicado também no blogue Arrastão
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