quarta-feira, 20 de abril de 2011

Governos cortam acesso aos livros enquanto utentes vão escrevendo novas páginas na defesa das bibliotecas

por Paula Sequeiros

Corta, corta. Corta serviços públicos, corta, corta.
Enquanto a grande finança continua a não pagar impostos, ou a pagar tão pouco que deixa quem trabalha de cara à banda, serviços públicos essenciais para a população em geral, sobretudo para quem vive apertado, são alvo de cortes brutais.
No Reino Unido e nos EUA tem-se assistido a grandes cortes no financiamento de bibliotecas públicas, indo ao extremo de anunciar o encerramento de várias centenas de pólos no caso do primeiro. Casos menos extremos de cortes tem redundado na substituição de pessoal especializado por voluntários sem qualquer formação específica, ou na redução das horas e dias de abertura e mesmo nas coleções disponíveis.
O que é tanto mais grave quanto, desde que a recessão se começou a instalar, o acesso às bibliotecas públicas tem subido, na tentativa de encontrar nesses equipamentos coletivos alguma forma de compensação para orçamentos familiares reduzidos.
No início do ano, a Associação de Bibliotecas Norte-Americana, ALA, contabilizou reduções de horários em cerca de um quarto das bibliotecas urbanas e 14.5% a nível nacional, enquanto a procura, segundo vários artigos na imprensa, tem vindo a subir entre 20 a 30%.
Mas esses encerramentos nem sempre vão para a frente, os protestos populares têm-lhes feito face, com vários casos de bons resultados finais.
Protestos, diga-se de passagem, que podem assumir formas um quanto bizarras (mas eficazes!): no Reino Unido tem sido prática comum apelar a leitores e leitoras das comunidades servidas pelos pólos «a a abater» para que afluam num momento combinado e requisitem o máximo possível de livros, deixando as prateleiras vazias.
Em Santa Cruz, California, uma cerca de 200 utentes foram a reunião do City Council e protestaram pela intenção da autarquiq cortar serviços o que podia chegar ao encerramento de alguns pólos. O vídeo sobre esse evento é muito interessante, até pelo facto de se perceber que crianças e adolescentes foram ouvidos também. A certo ponto um miúdo explica aos jornalistas de forma muito simples porque está ali: «É fixe pudermos tirar um livro da estante, lê-lo e então sabermos uma coisa».
Em Bradford, UK, um autor teve a ideia de congregar apoio para a biblioteca local de Ilkey convocando um picnic, a que chamou um «eat-in». Nos comentários a esta notícia podem ler-se alguns dos argumentos habituas em favor da defesa das bibliotecas públicas e um, em particular, que questiona como se pode pensar em cortes na biblioteca quando a autarquia é suspeita de estar envolvida num financiamento ilegal a uma equipa desportiva e sobre o qual não terá prestado ainda contas.
No mesmo país, desta vez em Cotswolds, o eminente desaparecimento da biblioteca-móvel e do serviço de apoio domiciliário a idosos deram lugar a uma petição, a um protesto de crianças que escreveram ao executivo do Gloucestershire County Council mostrando o seu desapontamento pela notícia e também a manifestação promovida pelo bibliotecário-móvel.
A quase totalidades destas notícias é deste mês mas estes protestos têm vindo a desenrolar-se há vários meses desde que os cortes forma anunciados.
A boa notícia é que têm enfrentado muita oposição popular e que, pelo menos alguns desses intentos, não foram levados para a frente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário